Segunda vista

Só com o nascimento do primeiro neto é que ela conseguiu livrar-se do medo. O medo tinha cara, tinha nome e era pai de seus filhos. Quase trinta anos de ameaças e atos violentos, de filhos saindo cedo de casa para fugir do inferno e enfim a vez dela, a vez de tomar coragem e voltar pra cidadezinha em que cresceu, mesmo que esse retorno lhe custasse a falsa imagem de bem sucedida na cidade grande.

O chegar à cidade se assemelhou ao acordar de um coma, de um sono profundo repleto de pesadelos. Os pesadelos não conseguiram matar a alma jovem da senhora que voltou a sua terra natal, justo num período de festas juninas. Em meio a fogueiras, bandas de forró, fogos de artifício, milhos e seus derivados, ela saiu com as sobrinhas para aproveitar a festa e na festa viu um jovem negro com alma de senhor que lhe trazia a recordação de seu primeiro e risonho namorado.

Após danças e risos, se consumou uma paixão que tinha gosto de amor a segunda vista.

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